5 Dicas Corporais para Lidar com a Mudança

“O primeiro passo da mente para a auto-consciência, deve ser através do corpo.”

-George Sheehan

A vida é impermanente e, por isso mesmo, está em constante mudança. No entanto, como seres de hábitos e de controlo que somos, quando a mudança surge parece que o nosso mundo vira, literalmente, do avesso.

Somos adita/os do controlo e da perfeição, temos momentos em que olhamos para a vida e esta nos parece perfeita: conseguimos ir ao ginásio todos os dias, estamos a ler os livros que queríamos, organizamos os nossos armários, as nossas relações estão calmas, tudo perfeitamente controlado (ou ilusoriamente). Mas, num abrir e fechar de olhos, a vida tira-te o tapete e ficas de cabeça virada para o chão.

Das mudanças mais simples e rotineiras, a perdas difíceis de reparar, a mudança repentina pode deixar-te diferentes cicatrizes.

Provavelmente já te disseram que deves desenvolver uma atitude positiva face a estes acontecimentos, que precisas desenvolver a resiliência. Contudo, acredito que mais do que desenvolver o positivismo, devemos convidar-nos a cultivar a flexibilidade e a aceitação da lei da impermanência. Isto implica acolher aquilo que nos toca viver, momento a momento. Não quero dizer que te deves resignar, mas aprender a atravessar esse momento com aquilo que tens e não com o que deverias ter.

Nestes momentos a ansiedade, tensão, medo instalam-se e sentes-te perdida/o. O que realmente precisas, é de um conjunto de práticas sólidas que ajudem a acalmar o teu sistema nervoso e a promover a flexibilidade.

 

Costumo dizer que, tudo o que te acontece passa pelo corpo. Logo, quanto mais conhecedor/a fores do mesmo, mais consciente estarás perante os desafios. Por outras palavras, quando uma mudança inesperada chega à tua vida, desafiares-te a estar à altura significa munires-te de práticas corporais que te vão ajudar a ser flexível como uma cana de bambu, que não quebra, perante a tempestade.

Assim, deixo-te aqui 5 dicas corporais para aprenderes a lidar com a mudança:

 

1- Pratica a consciência corporal

Quando a mudança chega, é muito fácil deixares que a tua mente ganhe o controlo da situação e se perca nos pensamentos ruminativos acerca do futuro. Sabias que estes “e se?”, são como pagar juros sobre uma dívida que não é tua?

O stress excessivo, e a preocupação, podem levar-te a um estado limite em que é difícil pensares e agires de uma forma clara.

Os exercícios de rastreio/consciência corporal têm vindo a demonstrar uma clara eficácia na diminuição da ansiedade e da tensão. Assim, em vez de tentares direcionar os teus pensamentos para um determinado sítio, o convite passa por gentilmente, convidares a tua atenção a repousar sob a presença ou ausência de qualquer sensação física no teu corpo. Tudo isto, por sua vez, ajudará a acalmar o teu sistema nervoso.

Sabes a diferença entre sensação e percepção?

A sensação é definida como a informação básica que viaja para o teu cérebro através dos teus órgãos dos sentidos. Já a percepção diz respeito à interpretação dessa mesma informação. Uma vez que os estímulos sensoriais nos chegam em tempo real, convidar a tua atenção a ancorar-se nas sensações físicas aqui e agora, foca de forma efetiva a tua mente sem que fiques presa/o à árdua tarefa de perseguires pensamentos dispersos. Deixas de estar centrada/o na história, e passas a estar atenta/o ao que há aqui e agora e, isto, por si só, acalma o teu sistema nervoso.

Quando te sentires mentalmente sobrecarregada/o, ou como se estivesses a perder o controlo de ti mesma/o, tenta uma prática de rastreio corporal. Deixo-te aqui umas dicas para uma prática muito simples e que poderás fazer em qualquer lugar:

Começa por dar-te conta da tua respiração, do seu movimento quem sabe no peito ou na zona abdominal. Dá-te conta do peso do teu corpo sob a superfície onde te encontras sentada/ou ou deitada/o, das sensações provocadas pelo contacto da tua roupa com a superfície da tua pele. Convida a tua atenção a dirigir-se para os teus pés, e tal como se estivesses a fazer um scan, vai observando as diferentes partes do teu corpo até à tua cabeça. À medida que vais cultivando esta atenção, o teu sistema nervoso procura o equilíbrio e começas a acalmar, algumas sensações físicas podem vir à superfície. Isto pode incluir sensações como rigidez no estômago, peso no peito ou mesmo sentires o teu ritmo cardíaco mais acelerado. Não procures alterar nenhuma sensação, simplesmente reconhece, acolhe e continua o exercício. O objetivo não passa por alterares nenhuma sensação física, mas tornares-te consciente do teu corpo.

 

2- Enraiza-te no teu corpo aqui e agora

O stress leva-te, por vezes, a sentir que a situação é demasiado pesada para conseguires lidar com ela. Isto leva a que inconscientemente, procures desconectar-te do teu próprio corpo quando estás sobre demasiada pressão. Isto verifica-se através da inquietação, da rigidez muscular, do consumo de diferentes substâncias (açúcar, álcool…) etc.

O teu corpo sabe quando os seus tecidos se alongam, contraem e relaxam, por isso quando os teus músculos bloqueiam isto leva à redução da entrada de informação. A propriocepção, é a forma como tu sabes que o teu corpo te pertence. Quando perdes esta capacidade ou ela se encontra diminuída, podes mesmo sentir que parece que te estás a perder de ti mesma/o.

Certamente já ouviste falar sobre “enraizamento”, muito se diz sobre este assunto,mas ele significa tão somente: ancorarmo-nos no aqui e no agora no nosso corpo. Muitas práticas ensinam a visualização de raízes fortes de uma árvore a enraizarem-se no centro da terra, contudo conectares-te à informação sensorial dos teus pés (rica em feixes nervosos) é o caminho para esse verdadeiro enraizamento.

Quer te sintas stressada/o por uma mudança inesperada, ou gostasses de cultivar recursos que te permitam lidar com acontecimentos futuros, poderás começar por implementar pequenas práticas que acordem os teus pés dormentes, restaurando a sensação perdida e reduzindo a tensão muscular.

Por exemplo, caminhares sob diferentes superfícies descalça/o (relva, areia, granito..). Poderás, também, experimentar contrair e relaxar os teus pés e observar as diferentes sensações provocadas pela contração e relaxamento, e o tempo que estas se manifestam.

 

3- Cria um espaço dentro do teu corpo: respira

O stress está relacionado com 3 tipos de resposta: luta, fuga ou paralisação. Este tipo de resposta, prepara o teu corpo para lidar com um potencial perigo. Mas, sabias que também tens uma resposta de relaxamento? E esta é tão simples, simplesmente passa por te focares na tua respiração.

A tensão dentro, e à volta, da tua caixa torácica e do teu diafragma, constrangem os teus pulmões e limitam a quantidade de ar que consegues inspirar.

A respiração enche o teu peito tal como se estivesses a encher um recipiente com água. se este conseguir esticar, tal como um balão, irá expandir. Um recipiente rígido, irá constrangir a tua respiração. Sabias que podes libertar a tensão dos teus músculos desde dentro para fora? Ao utilizares a tua respiração, estás a aumentar e a ganhar espaço dentro do teu corpo.

Poderás experimentar este exercício em formato audio de atenção à respiração.

 

4- Liberta tensão desnecessária

O stress e a tensão estão interligados. Sempre que percepcionas uma ameaça, por exemplo, instabilidade financeira, uma ruptura numa relação ou um problema de saúde, o teu corpo prepara-se para enfrentar o perigo.

O perigo a curto prazo é algo com o qual consegues lidar, e os seus efeitos tendem a desaparecer de uma forma mais rápida. Contudo, um stress contínuo poderá levar ao desenvolvimento de padrões que se instalam como hábitos para o corpo, tais como a pressão nos maxilares constante ou a tensão e peso nos ombros. A maior parte das pessoas carrega muita tensão simplesmente por hábito. Já tinhas pensado nisso?

Que tensões a mais carregas em ti? Consegues localiza-las no teu corpo?

Quando ages a partir das respostas de stress (luta, fuga ou paralisação), primeiro reages e depois é que te questionas ou refletes sobre o acontecimento. Conduzires a tua vida a partir de um estado de sobrevivência, é seres levada/o por impulsos inconscientes que apenas servem para te afastar da ameaça imediata, mas que não te resolvem o problema em si, o que te levará a uma dificuldade na tomada de decisão perante uma situação de pânico.

Acalmar o teu sistema nervoso e saíres deste estado reativo, poderá ser tão simples como libertares a tensão desnecessária que carregas no teu corpo. Tal como a massagem reduz o stress ao relaxar os teus músculos, relaxares o teu corpo desde dentro para fora faz-te regressar ao teu centro e ver as coisas com maior clareza. Passas a ver as coisas como elas realmente não, e não como a tua mente te conta.

Aqui fica um exercício para fazeres, com alguma regularidade, de forma a não acumulares demasiada tensão no teu corpo.

Deita-te no chão, ou numa superfície lisa, com as tuas pernas esticadas, mas relaxadas, e os teus braços, repousados, ao longo do corpo. Faz um pequeno rastreio corporal desde os pés à cabeça, observando os locais do teu corpo que parecem estar “fora do chão”. Observa se consegues respirar para esses sítios, permitindo que estes “desçam” até ao chão. À medida que vais permitindo que esses locais toquem a superfície, irás abrindo permissão a que o excesso de tensão, que se tornou uma fuga de energia do teu corpo, se vá dissipando.

 

5- Cultiva o equilíbrio

Por vezes a linguagem reflete a nossa realidade física, quando dizes “parece que me tirarão o chão”, certamente que o dizes de uma forma metafórica contudo, centrares o teu corpo pode literalmente aumentar e promover a tua capacidade de lidar com a mudança.

O centro de coordenação muscular no nosso cérebro, está ligado com as nossas funções executivas (o conjunto de funções mentais que nos ajudam a gerir o tempo e a fazer as nossas coisas). Exercícios de equilíbrio e coordenação estão relacionados com a promoção da nossa memória, porque nos forçam a adaptar à mudança.

Parece-te que poderá ser algo que te poderá ajudar a navegar os territórios sombrios da mudança? Como?

Poderás, simplesmente, começar por praticar permanecer de pé apoiado num só pé. Se te for demasiado fácil, poderás desafiar-te a algo mais: fecha os teus olhos, ou roda a tua cabeça de um lado para o outro, ou coloca-te numa superfície inclinada. Todos estes desafios irão fortalecer a tua capacidade de estares centrado.

Como em tudo, o melhor será desenvolveres as tuas competências de equilíbrio quando não estás a precisar delas, para que no momento em que se tornem necessárias te possam ser realmente úteis.

O corpo é, sem sombra de dúvida, aquilo que te liga ao momento presente. Ele não te leva ao passado, nem ao futuro, por isso doa-lhe a tua atenção e compaixão.

Tu Podes Fazer a Mudança

Vamos explorar. Vamos conversar sobre como podemos encontrar a mudança.
Agora podes viver a vida que sempre quiseste.

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