Quando dizes algo desagradável, quando fazes algo em retaliação, a tua raiva aumenta. Fazes a outra pessoa sofrer e esta tenta responder de volta para ti de forma a fazer-te sofrer, e poder aliviar o seu próprio sofrimento. É desta forma que o conflito escala.
– Thich Nhat Hann
Ontem comecei a falar-te sobre a raiva, é uma emoção que me é familiar e com a qual, durante muito tempo, tive uma relação conflituosa. Passei anos a tentar mascará-la e evitá-la e, quando menos esperava, ela fugia pela porta da saída de emergência e fazia um festim, sem que eu me desse conta.
Aprender a lidar com a raiva, é um processo. Um processo que nos convida a ver a raiva tal e como ela é, e a sair da reatividade, para acolhermos e cultivarmos escolhas mais conscientes e compassivas.
Como vimos, a raiva é uma emoção natural, inteligente, e necessária para o nosso crescimento e sobrevivência. Contudo, quando nos enredamos nela, ela pode trazer-nos um grande nível de sofrimento quer pessoal, quer coletivo.
Como poderemos transformar os momentos de raiva, para uma atitude mais consciente e compassiva em direção às necessidades não observadas, que estão por detrás da nossa raiva e da nossa reatividade?
Quando aprendemos a parar e a conectar-nos com a voz da nossa sabedoria interna, então estaremos prontos a responder aos outros e às situações desde a nossa inteligência cardíaca.
Facilmente conseguimos reconhecer quando as outras pessoas estão a expressar a sua raiva. Contudo, e quando somos nós?
Será que conseguimos reconhecer os momentos de raiva, e as emoções e pensamentos que se escondem nas suas produndezas?
Como o podemos fazer? Como atravessar a raiva? Qual o propósito da mesma?
O primeiro propósito da raiva, na sua superfície, é o da auto-preservação.
Assim, resiste à necessidade de a rotulares como boa ou má.
E se te convidasses a conhecê-la para melhor a compreenderes nos teus contextos de vida e experiências?
Primeiro, dá-te conta que a raiva é uma das emoções que nos faz sair, de forma instantânea, do momento presente e colocar-nos em situações complexas e difíceis de gerir.
Segundo, entende que o problema não reside na raiva, mas precisamente na falta de consciência da mesma, o que te leva a um sofrimento desnecessário. Nestes momentos facilmente te transformas na raiva, deixando que esta te consuma. Torna-te consciente deste momento.
Sabias que as pessoas que tendem a desenvolver padrões de raiva e reatividade, têm facilidade em desenvolver mais problemas cardíacos e gastrointestinais?
“Inspiro, eu sei que a raiva se está a manifestar em mim, expiro, eu sorrio para a minha raiva.”
Isto não é um ato de repressão ou luta. Isto é um momento de reconhecimento. Quando reconhecemos a nossa raiva, podemos acolhê-la com muita consciência e ternura.
Sabes, tenho momentos em que me é difícil reconhecer a raiva, em que as sensações físicas da mesma começam a manifestar-se de forma tão intensa, que parece que vou ser engolida por ela.
Sabes o que faço?
Quando sinto que a raiva começa a manifestar-se dentro de mim, é-me útil começar a contar respirações de 1 a 10 e de 10 a 1. Por exemplo, inspiro e penso “um” e continuo a pensar “um” na expiração, até chegar ao 10. Se a raiva continuar no bailado interno, então simplesmente reconheço-a e digo-lhe:
Olá Raiva. Estou a Ver-te!
O primeiro passo em direção ao reconhecimento da raiva é o de respirarmos de forma profunda e consciente, de forma a reconectarmos a mente e o corpo.
Contudo, podemos utilizar exercícios simples de mindfulness que podem ajudar-nos a nos darmos conta da raiva, atravessá-la e regressar ao momento presente. Se estás a sentir raiva, experimenta uma destas 8 técnicas:
1- Reconhece
O primeiro passo de forma a lidarmos com as nossas emoções de forma compassiva, é o de simplesmente reconhecermos que a raiva está presente dentro de nós. Isto pode ser verdadeiramente desafiador em momentos em que nos estamos a sentir completamente dominados por esta emoção, contudo tem o efeito poderoso de suavizar o seu impacto nos nossos comportamentos. Se resistimos à mesma ou a tentamos suprimir, por não gostarmos da forma como nos sentimos quando sentimos raiva, então a nossa ansiedade e os sentimentos e pensamentos negativos sobre a situação, tendem a aumentar.
2- Percebe
Dá-te conta de que está tudo certo em sentires raiva. Dá-te conta que és merecedor/a do teu próprio amor. Quando deixamos que a raiva se descontrole, em ultima instancia estamos a magoar-nos e a provocar-nos sofrimento. Darmo-nos conta, simplesmente, de que está tudo ok em sentir raiva é um passo enorme para quebrarmos o ciclo automático da escalada que nos pode levar a fazer coisas que, posteriormente, nos podemos arrepender.
3- Respira
Quando tiveres dúvidas do que fazer, respira. A respiração é uma das técnicas mais poderosas. Uma vez mais, quando sentimos raiva, tendemos a tornar-nos nessa raiva e a nossa respiração torna-se rápida, superficial e agitada (prepara-nos para a ação). A mente e o corpo desconectam-se uma da outra. Respirares faz-te regressar ao corpo, ajuda-te a trazeres a tua mente de volta ao teu corpo e este momento é aquele que quebra o hábito e o automatismo.
4- Recorda-te do que amas
Utiliza a raiva como um gatilho para o amor. Utiliza-a como uma faísca para considerares o que amas e as coisas que consideras belas na vida. E não te esqueças: sê compassivo para com a tua raiva.
5- Sai do “filme da tua mente”
Considera a situação que te provocou raiva da forma mais objetiva possível. Dá um passo atrás, ganhar perspectiva: Analisa os papéis, intenções e ações de todos os envolvidos, bem como tudo o que sucedeu em termos de ganhos e perdas. O que descobres? É possível uma mudança de perspectiva?
6- Fonte de poder e ação
Estabelece um plano de forma a ires ao encontro dos recursos e competências que te possam ajudar a resolver a situação de forma amorosa, presente e compassiva.
7- A Lei da impermanência
Considera a natureza transitória dos fenómenos da vida humana e dos conflitos entre as pessoas. Isto também passará.
8- Não te identifiques
Sente a raiva na tua mente e observa-a de uma forma desapegada. Reconhece como o estado da raiva e os seus fluxos e refluxos como impulsos eletromagnéticos no teu cérebro. Tu não és a tua raiva.
Fecha os olhos, e repete para ti:
“Que eu possa continuar a olhar profundamente para a minha mente, coração e corpo.
Que eu possa ver as coisas e ir ao encontro das mesmas, tal e como estas são.
E que este conhecimento claro e sustentado me possa libertar pelo bem de todos os seres.”
Aprender a lidar com a raiva é um desafio. Sê gentil e paciente contigo. Nem sempre vai ser possível, aproveita esses momentos, eles também devem ser fonte de compreensão e compaixão. Não é suposto seres perfeita/o. Já és suficiente.
És livre de seres quem és.
Tu Podes Fazer a Mudança
Vamos explorar. Vamos conversar sobre como podemos encontrar a mudança.
Agora podes viver a vida que sempre quiseste.