Alimentação Emocional: 9 Componentes e Questões

 

Não mastigues as tuas preocupações, o teu sofrimento, ou os teus projetos. Isso não é bom para a tua saúde. Mastiga apenas a tua comida.
– Thich Nhat Hanh

 

São seis da tarde, estás no meio do trânsito depois de um dia de trabalho. Cansada/o, a questionar-te o porquê de hoje não teres conseguido fazer todas as tarefas a que te tinhas proposto. Buzinas. O carro continua parado e o teu coração começa a acelerar, o teu estômago parece pedir qualquer coisa, a tua mente diz-te “tens fome!”, abres o porta luvas e encontras uma maçã, trincas mas não te sabe a nada…

Suspiras… ficas impaciente…

Procuras ainda mais, encontras uma bolacha de chocolate, comes num abrir e fechar de olhos, mas ainda assim não é suficiente.

O trânsito avança, assim como o teu coração que se acelera e a tua mente não para de te contar histórias.

Oh meu deus e tu só queres chegar a casa! Estás cansada/o, irritada/o, precisas de sofá e de qualquer coisa que te traga conforto.

Chegas a casa, pousas as tuas coisas e pensas “e agora o que vou jantar?”, começas a preparar e vais petiscando uns frutos secos… Quando te dás conta, já desapareceram… Abres um pacote de bolachas… enquanto provas o jantar, percebes que também elas já se foram… um pão… também não ajudou, mas num abrir e fechar de olhos e, enquanto cozinhas, tudo isto “abafou” o que já não podes ouvir. O corre, corre continua, pões a mesa, pousas a comida, serves-te, já te sentes um pouco mais cheia/o, mas precisas de mais qualquer coisa… Repetes… Todos comeram e tu também (é aqui que começas a pensar que comeste demais). Arrumas a cozinha, ou ajudam-te a arrumar ou arrumam por ti. Tens oportunidade, finalmente, de te sentar no sofá e descansar mas… há mais qualquer coisa que falta. Apetece-te alguma coisa, não sabes bem o quê… Levantas-te, vais à cozinha e no armário vês as bolachas de chocolate (iguais às que tinhas comido no carro) e pensas “serve!”, vais para o sofá e quando te dás conta comeste o pacote inteiro. Sentes-te a abarrotar. Ao mesmo tempo que te sentes cheia/o, sentes que ainda não estás satisfeita/o. E é nesse momento que chega a outra voz, aquela que te diz “és sempre a mesma coisa, não te consegues comprometer com nada! Já comeste outra vez! Não tinhas prometido que esta semana ia ser diferente? Amanhã restrição total!”. A culpa e a vergonha instalam-se e começas a sentir-te, mais uma vez, insuficiente.

Esta poderia ter sido a descrição de um dia na vida de muitas pessoas. Quem sabe já não te aconteceu ou acontece, dia após dia?

Culturalmente, utilizamos a comida como forma de celebração, conforto ou, em muitos casos, anestesia. Mas se, para algumas pessoas isto não se assume como um problema, para tantas outras a alimentação é um verdadeiro drama pessoal. Esse drama pessoal transforma-se numa história, tantas vezes escondida, entre momentos de compulsão alimentar e outros de restrição. Entre kilos ganhos, kilos perdidos, sucessos em dietas maravilhosas, e falhas profundas em manter tudo aquilo que se conquistou. Pior ainda, o peso que se carrega por não conseguir se estabelecer um compromisso a longo prazo que, dia após dia, se vai transformando em vergonha e culpa.

As perturbações do comportamento alimentar têm vindo a crescer exponencialmente. Necessitamos muitas vezes questionar-nos, serão elas SÓ fruto de más escolhas alimentares? Ou, também, de uma fuga ao sentir aquilo que nos toca viver?

Hoje quero falar-te sobre isso.

Talvez tenhas ouvido falar sobre “binge eating” ou, ingestão compulsiva. Poderia falar-te sobre todos os critérios de diagnóstico, e comportamentos associados. Mas hoje não é esse dia. Hoje o dia é para sermos transparentes, colocarmos as cartas na mesa e percebermos que a voz na nossa mente que nos diz “não consigo, vou ser sempre assim”, pode ser acolhida e compreendida (afinal, é só isso que ela quer). Hoje, é o dia para começares a perceber que tens uma vida e liberdade à tua espera.

A tua relação com a comida, é uma relação essencial e vital, por isso mesmo, necessita de ser nutrida e, sempre que necessária apaziguada.

Convido-te a refletires sobre as seguintes questões acerca da tua relação com a comida. Recorda-te que, tal como em todas as relações, há componentes a ter em conta. Por isso, vai buscar um papel, respira fundo e, responde, com total transparência e respeito por ti, a cada uma das perguntas que vão surgindo.

 

As relações convidam-nos ao amor.

  • Amas a comida que comes e alimentas-te demonstrando esse amor? Ou tens uma relação de amor-ódio com a comida, que te leva a que te prives das comidas que mais gostas e, mais tarde, isto leva-te a comportamentos compulsivos, que te levam a comer em excesso e te deixam confusa/o, envergonhada/o, zangada/o ou triste?
  • Acreditas que deves aprender a controlar a comida e controlar-te a ti mesma/o? Ou haverá uma outra forma de te relacionares com a comida?

 

As relações saudáveis, nutrem e realçam a nossa vida. E a tua?
  • A tua relação com a comida suporta a tua saúde física, emocional, intelectual e espiritual? Ou a tua relação com a comida afasta outras relações da tua vida ou distraem-te de cuidares de ti de uma forma equilibrada?
  • A comida ajuda-te a viver a vida que desejas? Ou domina e consome os teus pensamentos e comportamentos?

 

Para receberes amor e te sentires suficiente, precisas respeitar-te.
  • Respeitas a comida e o poder que esta fornece ao teu corpo, mente, coração e espirito?
  • O tipo e quantidade de comida que escolhes comer respeitam e suportam a forma como tu te queres sentir e funcionar na vida?

 

Uma relação, para sobreviver, precisa de comunicação.
  • Escutas a forma como o teu corpo comunica as suas necessidades, aos prestares atenção aos sinais de fome e saciedade? Ou ignoras os sinais do teu corpo porque estás demasiado ocupada/o, anestesiada/o, desconectada/o ou porque decidiste que as informações de outra pessoa, ou do exterior, são mais válidas?
  • Prestas atenção ao feedback que o teu corpo te dá quando comes um determinado tipo de alimento? Como te sentes? Qual é o teu nível de energia? Como é a tua saúde?
  • Qual é a conexão entre o que tu sentes e o que comes – e o que comes e como te sentes?

 

Uma relação precisa de tempo, investimento e atenção.
  • Dedicas tempo do teu dia para selecionares e preparares a tua comida? Ou comes o que houver?
  • Comes rapidamente, às vezes de pé, e sem saborear o que estás a comer?

 

Uma relação também precisa de momentos divertidos e frescos.
  • O ato de comer é para ti uma fonte de alegria, energia ou é visto de uma forma ambivalente, conflituosa, com culpa e ressentimento?

 

Numa relação existem emoções e pensamentos que, quando não conscientes, estão na base dos conflitos.
  • Dás-te conta das emoções que vais sentindo ao longo do dia? Percebes se alguma delas te leva a procurar o conforto na comida?
  • Que pensamentos te surgem quando comes um determinado alimento que vês como proibido? O que te dizem sobre ti e o teu comportamento?

 

Tal como o ser humano, as relações e as suas necessidades vão mudando e crescendo com o tempo.
  • À medida que o teu corpo, estilo de vida e necessidades vão mudando ao longo do tempo, vais-te apercebendo das mudanças que necessitas fazer na forma como te alimentas?
  • Se a comida tem sido uma fonte de sofrimento na tua vida, estás comprometida/o a dar passos rumo a uma relação mais apaziguada com a comida?

 

Se, ao longo da tua vida tens tido uma relação difícil com a comida.

Se sentes que ela tem sido o veículo para te evadires, te anestesiares das tuas emoções e abafares aquilo que não queres resolver, permite-te ir mais fundo nestas questões.

Abre a porta a um verdadeiro compromisso contigo mesma/o.

Abre a porta, agora, a te relacionares com a comida de uma forma mais consciente.

O Mindfulness aplicado ao comportamento alimentar, ou Mindful Eating, tem vindo a surgir não como uma solução milagrosa, mas como uma prática refrescante e libertadora de exigências. Trata-se de um conjunto de práticas que nos proporcionam o desenvolvimento de uma relação mais compassiva e sanadora com a comida, libertando-nos da culpa e da vergonha. Com esta prática começamos a nos conectar com a sabedoria do nosso corpo, percebendo o que realmente necessitamos: quando sentimos, precisamos sentir, quando pensamos, precisamos observar, quando temos fome, precisamos perceber as necessidades do nosso corpo, isto é: quando tenho fome, é mesmo de comida que necessito?

O mindful eating substitui a auto-crítica pela auto nutrição e a vergonha pelo respeito da nossa sabedoria interior.

Queres saber mais sobre esta prática? Fica atenta/o aos próximos posts, pois vou falar-te, não só sobre o que é o Mindful Eating, mas também, sobre dicas, práticas e como as mesmas te podem ajudar com o stress, ansiedade e alimentação.

Tu Podes Fazer a Mudança

Vamos explorar. Vamos conversar sobre como podemos encontrar a mudança.
Agora podes viver a vida que sempre quiseste.

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