Perdoar ou Não Perdoar? 11 Passos e 1 Prática Diária

Quando alguém nos magoa ou é injusto connosco, está a lançar o mote para abrir a nossa caixa de pandora.

Esse momento, abre dentro de nós a caixa das dores passadas e leva-nos a reviver várias dores ao mesmo tempo. Não só, cria mais um espaço para guardarmos uma dor, como nos faz sentir pequenos e isolados. A desilusão toma conta umas vezes, a raiva tantas outras.

Mas, será que vale a pena te agarrares a esse acontecimento?

Sabias que o ressentimento pode causar um pico na tua tensão arterial levando a que vivencies mais stress? Recorda-te do velho ditado: “não perdoar é como beber veneno e esperar que a outra pessoa morra”.

Quando alguém te magoa, nem sempre é fácil deixar ir. Contudo, já te deste conta  que a verdadeira toxicidade é libertada no teu interior a partir desse ressentimento ao qual te agarras?

O grande paradoxo é o seguinte: quando foste enganada/o, ou magoada/o, o perdão é a ÚNICA coisa que te poderá trazer alívio à dor.

Abrires espaço ao desconforto e à análise da situação, poderá ser um momento de grande libertação.

Acima de tudo, o processo de perdão tem tudo a ver com o soltares as amarras dos fardos e das dores que carregas. Ainda te são úteis? Que utilidade têm? Estão aí para te relembrar de alguma coisa? Definem-te como pessoa?

Respira fundo, estás aqui, percebe como podes começar a partir de hoje a cultivar pequenas mudanças em direção ao processo de perdão (de ti mesma/o e dos outros).

 

1. Compreende o que é perdoar

Antes de tentares te forçar a perdoar aquilo, ou quem, que mais te magoa, dá-te conta daquilo a que realmente te estás a propor: perdoar não significa que vás esquecer o que aconteceu ou que quem te magoou fique impune ou ileso em relação à situação. Perdoar, é acima de tudo uma escolha consciente em direção à liberdade. Perdoar é libertares-te do peso, dor e stress por estares agarrada/o a esse momento. Não se trata, tão pouco, de modificares o que aconteceu, mas sim de iniciares um processo de aceitação e libertação. Algo mais do que resignar, é reconheceres o que aconteceu e libertares-te do que não podes mudar.

2. Permite-te sentir a dor

Vivemos vidas em que, pelas circunstâncias, somos obrigados a nos construirmos em cima de plataformas de dor não reconhecida. Criamos carapaças para sobreviver, para não sentir e não sermos novamente magoada/os. Contudo, a dor e o sofrimento conseguem ser bem profundas e perdurar no nosso inconsciente sem nos darmos conta da sua presença. É muito importante que te dês a ti mesma/o permissão para reconheceres e honrares a dor, que é real para ti. Dá-te conta do que estás a sentir no teu corpo e pergunta-te “O que é que eu necessito agora?”. Quem sabe necessites colo, ter tempo para ti, teres alguém que te escute, precises de silêncio. Abrir espaço para a dor se expressar pode ajudar-te a saber se estás preparada/o para a libertares do teu coração e da tua mente.

3. Dá nome ao que estás a sentir

Sempre que te tiveres magoado, ou que tenhas magoado alguém, permite-te ser honesta/o e simplesmente reconhecer e nomear o que estás a sentir. Sim, isto pode incluir emoções como a culpa, a vergonha, a confusão ou a raiva. Qualquer um destes sentimentos pode surgir quando estamos num processo de perdão. Ao nomeares a emoção estás a criar um espaço, um espaço onde não te sentes assoberbada/o, onde não és engolida/o, onde te podes começar a ver e ver o que aconteceu com outros olhos.

4. Abre a porta, deixa sair.

Durante muito tempo fomos educada/os para a blindagem emocional. Criamos a ilusão de que se nos fechássemos aos sentimentos, eles não causariam mossa. A verdade é que não é possível fechar a porta deste fora a algo que já se encontra dentro. Assim, fechares os teus sentimentos dentro de ti, será uma fonte muito maior de stress e sofrimento. Abre-te à partilha do que sentes, nunca te esqueças que “uma dor partilhada é metade da dor”. O ato de partilhares algo ajuda a expandir a tua perspectiva, e quem sabe, talvez ver aquilo que aconteceu através de outras lentes, pois o que realmente tem impacto é a forma como tu interpretas as tuas experiências. É o que tu sentes naquele momento, que realmente fica gravado. Por isso, abre a porta e partilha: o que te dói?

5. Muda o teu foco

Observa se consegues sair desse lugar onde te encontras e tentar vislumbrar a situação do outro lado. Encoraja-te a colocar-te no lugar da outra pessoa. Pergunta-te: “O que será que fez com que esta pessoa se tornasse assim?”. Assim como tu, também ela tem dores, revoltas, medos, feridas inconscientes que a fazem fechar ao mundo e atacar para se proteger. Não, não é arranjares desculpas para essa pessoa, mas convidares a compreensão para a equação. Cada um de nós tem as suas próprias batalhas. Isto é muito difícil de ser feito, mas recorda-te: não estás a tolerar nenhum comportamento desta pessoa, estás apenas a observar os movimentos internos que a trouxeram, possivelmente, a este momento e que a conduziram a determinada ação. Este exercício é sobre tentarmos, como humanos que somos, perceber como somos profundamente impactados pelos nossos traumas e experiências pessoais. Estas vivências são, muitas vezes, preditoras da forma como nos apresentamos e agimos perante o mundo e os outros. A partir desta prática, a compaixão irá começar a fluir naturalmente pois esta é uma perspectiva que cultiva a compreensão.

6. Dá o primeiro passo, convida-te a agir.

Quer estejas no caminho de te perdoares a ti própria/o ou a outra pessoa, agir pode ajudar-te a facilitar o processo de sanação e proporcionar-te um maior sentido de empoderamento. O ideal é começares sempre pelos pequenos desentendimentos para que possas perceber que a prática funciona. Escrever uma carta ou ter uma conversa desconfortável pode ser algo muito difícil e assustador, mas a partir deste movimento poderá surgir esse empoderamento generoso, que parte desta ação compassiva de te escutares a ti mesma/o, as tuas necessidades, e fazer algo em que te possas apoiar a ti mesma/o.

7. Recorda-te: não serás a primeira nem a última pessoa neste processo

Quando nos sentimos magoados, sentimos muitas vezes que somos a/os única/os que fomos enganada/os, abandonada/os ou esquecida/os. Esta crença, enraizada no inconsciente coletivo da humanidade leva-nos a uma sensação de separação dos demais e a um sentimento, muitas vezes, de solidão. Precisas relembrar-te da humanidade que todos nós partilhamos. Não estás só na caminhada. Relembrares-te disto, de que não és a/o única/o a sentir esta dor, pode ajudar a suavizar o teu ressentimento.

8. Cultiva a paciência: o perdão é uma prática

Não estamos a falar de uma solução rápida. Estamos a falar de um caminho, de um processo, por isso treina a paciência para contigo mesma/o, cultiva-a. Certamente algumas situações serão fáceis e rápidas de perdoar, outras mais dolorosas e difíceis, quem sabe poderá levar anos até que possas estar em paz com as mesmas. À medida que vais trabalhando com as mais pequenas situações e vais expandido para as mais difíceis, sê gentil e compassiva/o contigo mesma/o. Sim, vais cair, sim por vezes vais explodir. Faz parte do processo, respira fundo e continua. A vida não para.

9. Deixa de culpar

Todos sabemos como sabe bem podermos queixar-nos, é uma sensação de esvaziar o que está dentro a incomodar. Mas, sabias que, segundo a autora Brené Brown, a culpa “é uma forma de descarregar a dor e o desconforto”? E que a mesma, nos dá uma falsa sensação de controlo o que, inevitavelmente faz com que a negatividade continue na ruminação mental, aumentando os nossos níveis de stress e provocando danos nas nossas relações?

10. Pratica mais mindfulness e compaixão

Quanto mais praticares a atenção às tuas necessidades, a escuta das tuas emoções e pensamentos, ao mesmo tempo que cultivas a compaixão em relação a ti mesma/o e aos outros, estarás a fortalecer a tua capacidade para perdoares. O perdão surge a partir desta capacidade de nos desidentificarmos com o que acontece. Ganhar perspetiva e observar. Recorda-te, não existe uma única verdade.

O Mindfulness ajuda-te de duas formas: coloca-te em contacto com as tuas emoções, boas ou más, e ajuda-te a travares um diálogo com quem tem uma perspectiva diferente da tua, sem caíres na reatividade.

11. Encontra um significado e força através da tua dor

À medida que vais trabalhando os teus processos de dor, estarás a desenvolver competências chave de auto-compaixão, coragem, empatia, vulnerabilidade que irão contribuir para o desenvolvimento da tua força interior.

Mesmo na situação mais horrenda e perante dolorosas circunstâncias, nós temos a liberdade para criar significado na vida, este facto é um poderoso agente de sanação.
– Vitor Frankl

 

Uma pequena prática compassiva e de perdão diária

Experimenta desenvolver esta pequena prática, uma vez por dia para desenvolveres o teu músculo do perdão.

Pensa numa pessoa que te causou dor (talvez seja melhor não começares pela pessoa que mais te magoou!) e pela qual sentes ressentimento.

Visualiza o momento em que esta pessoa te magoou e sente a dor que continuas a carregar. Agarra-te a essa tua falta de capacidade de perdoar. Percebe-a no teu corpo.

Agora, observa a emoção que está presente. Será raiva, ressentimento, tristeza? Ou outra emoção? Utiliza o teu corpo como um barómetro e dá-te conta de como te sentes fisicamente. Sentes-te tensa/o, pesada/o em alguma parte do teu corpo?

A seguir, convida a tua atenção a dirigir-se aos teus pensamentos. Qual é a qualidade dos mesmos? Estão carregados de ódio, rejeição ou outra coisa?

Sente mesmo este fardo que associas com a dor que vive dentro de ti e coloca-te as seguintes perguntas:

Quem está a sofrer?
Que voz é esta que me conta este sofrimento?
Onde me leva?
Que histórias me conta?
O que me faz acreditar? (Escreve as crenças que surgirem)
Carreguei este fardo tempo demais?
Estou disposta/o a perdoar?

Se a resposta for não. Está tudo certo. Algumas feridas necessitam de mais tempo do que outras para sarar.

Se estiveres pronta/o para deixar ir agora, repete silenciosamente dentro de ti:

“Abro espaço à minha dor, reconheço-a. (respira) 
Reconheço tudo o que me deu e o que não me deu.
Mas agora chegou a vez de a soltar.
Perdoo e solto este fardo do meu coração e mente.”

Repete as vezes que forem necessárias para ti.

A verdade em que acreditas, torna inacessível a escuta do novo.
– Pema Chodron

Tu Podes Fazer a Mudança

Vamos explorar. Vamos conversar sobre como podemos encontrar a mudança.
Agora podes viver a vida que sempre quiseste.

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